28.6.06

Cólera

Os judeus não foram os únicos que se indignaram; a conversão de certos pagãos também escandaliza os demais. A cólera faz com que os dois partidos se juntem contra os intrusos. Decidem apanhá-los e, muito simplesmente, lapidá-los.[...]
O rumor deste sucesso chegou a Iconium, onde se abateu como uma chicotada sobre a comunidade judaica que pensava ter-se desembaraçado daqueles loucos. Os judeus de Iconium precipitaram-se para Listra no intuito de esclarecer os incautos e pôr fim àquela impostura. A sua cólera comunica-se aos outros. Num ápice os habitantes de Listra mudam de opinião. Paulo é o principal objecto do seu ódio, pois ao curar o aleijado levou-os a trilhar um mau caminho!
Prendem-no e afastam Barnabé, que vinha em seu socorro. Tomados de fúria, os de Iconium perguntam-lhes o que querem fazer daquele falso Hermes.
A resposta chega sem ambiguidades:
- Lapidá-lo!
Será possível que nesse momento Paulo não se tenha lembrado do calvário do infeliz Estêvão? Tal como ele, foi arrastado para fora da cidade e atirado ao chão. Os executores apanham pedras e a avalanche abate-se sobre ele. Quando os habitantes de Listra e os judeus que suscitaram a ira contra ele viram Paulo inanimado pensaram que estava morto. Foram-se então embora, abandonando o homem que jazia de borco.
Firmes na sua nova fé, os primeiros cristãos convertidos acorrem na peugada deBarnabé. Debruçam-se sobre Paulo. O coração ainda bate. A cabeça está intacta. Aparentemente não tem ferimentos graves. Escapar a uma lapidação é algo quase inédito.
Alain Decaux in O Aborto de Deus (cap.VI)