19.12.05

A minha Alegria

Quando a minha Alegria nasceu tomei-a nos braços e subi com ela ao terraço da minha casa.
Então gritei: Venham vizinhos, venham ver, nasceu a minha Alegria! Venham contemplar um homem feliz que se ri ao sol.
Mas com grande surpresa minha, nenhum vizinho quis ver a minha Alegria.
Todos os dias, durante sete luas, anunciei ao vento a minha Alegria do terraço da minha casa, mas ninguém quis dar-me ouvidos.
Assim, a minha Alegria e eu ficámos sozinhos, sem interessar a ninguém e sem que alguém viesse visitar-nos.
Então a minha alegria começou a empalidecer e a cansar-se porque nenhum outro coração a não ser o meu admirava a sua beleza e só os meus lábios beijavam os seus.
Aos poucos, a minha Alegria morreu de solidão.
Hoje, apenas recordo a minha Alegria desaparecida quando recordo a minha Tristeza morta.

A recordação é uma folha de Outono que murmura um instante nas mãos do vento e nunca mais volta a escutar-se.
Khalil Gibran in O Louco