19.12.05

A minha Tristeza

Quando a minha tristeza nasceu, criei-a com esmero e com amorosa ternura.
A minha tristeza cresceu como todas as coisas vivas: forte, bela e cheia de encantos.
Amávamo-nos e amávamos o mundo que nos rodeava, porque a minha Tristeza tinha um coração bondoso, e o meu coração transbordava de ternura pela minha Tristeza. Quando cantávamos os dois, os vizinhos vinham às janelas, porque os nossos cânticos eram mais profundos do que o mar, e as nossas melodias estavam cheias de estranhas recordações. E quando andávamos juntos, as pessoas olhavam-nos com carinho e murmuravam palavras de inefável doçura. Havia até alguns que nos olhavam com inveja, porque a minha Tristeza era um ser nobre e eu estava orgulhoso da minha Tristeza.
Mas um dia a minha Tristeza morreu, como morrem as coisas vivas, fiquei sozinho com os meus pensamentos.
Agora quando falo, as minhas palavras ressoam pesadas nos meus ouvidos. E quando canto, os vizinhos já não vêm à janela escutar as minhas canções. E quando vou pelas ruas, já ninguém olha para mim.
Apenas ouço vozes que dizem: ''Olhem, aí vai um homem abandonado pela sua Tristeza''.
Khalil Gibran in O Louco