11.9.07

O Grande Desejo

Estou sentado entre a minha irmã, a montanha; e o mar, meu irmão.
Os três formamos um só.
Na nossa solidão, o amor que nos une é profundo, forte e estranho.
É por certo mais forte que o mar, meu irmão, e mais forte que minha irmã: a montanha, e mais estranho que esta minha insólita loucura. Desde que a primeira aurora cinzenta deixou que os nossos olhares se cruzassem decorreram milénios e milénios; e apesar de termos visto nascer, crescer e morrer muitas manhãs, somos ainda fortes e jovens.
Somos jovens e insaciáveis.
Apesar disso continuamos sozinhos e ninguém nos visita, e embora enlaçados nunca achamos consolação.
Que consolação pode haver para o desejo controlado, ou para a paixão reprimida?
De onde virá o Deus do fogo da minha irmã a montanha? E que mulher poderá ser dona do meu coração?
No silêncio da noite o mar murmura em sonhos o nome desconhecido do deus do fogo, enquanto a montanha chama ao distante e fresco deus torrente. Mas eu não sei a quem chamar no meu sonho.
Aqui estou sentado entre a montanha e o mar.
Os três formamos um só na solidão e o amor que nos une é realmente profundo, forte e estranho.
Khalil Gibran in O Louco