21.10.06

Trago fados nos sentidos


Trago fados nos sentidos
Tristezas no coração
Trago os meus sonhos perdidos
Em noites de solidão

Trago versos trago sons
Duma grande sinfonia
Tocada em todos os tons
Da tristeza e da agonia

Trago amarguras aos molhos
Lucidez e desatinos
Trago secos os meus olhos
Que choram desde meninos

Trago planícies de flores
Trago o céu e trago o mar
Trago dores ainda maiores

Amália Rodrigues in Amália, fados, poemas e flores

Tive um coração perdi-o

Tive um coração perdi-o
Ai quem mo dera encontrar
Preso no fundo do rio
Ou afogado no mar

Quem me dera ir embora
Ir embora sem voltar
A morte que me namora
Já me pode vir buscar

Tive um coração perdi-o
Ainda o vou encontrar
Preso no lodo do rio
Ou afogado no mar

Amália Rodrigues in Amália, fados, poemas e flores

Ai esta pena de mim


Ai esta angústia sem fim
Ai este meu coração
Ai esta pena de mim
Ai a minha solidão

Ai minha infância dorida
Ai o meu bem que não foi
Ai minha vida perdida
Ai lucidez que me dói

Ai esta grande ansiedade
Ai este não ter sossego
Ai passado sem saudade
Ai minha falta de apego

Ai de mim que vou vivendo
Em meu grande desespero
Ai tudo o que não entendo
Ai o que entendo e não quero
Amália Rodrigues in Amália, fados, poemas e flores

Gostava de ser quem era


Tinha alegria nos olhos
Tinha sorrisos na boca
Tinha uma saia de folhos
Tinha uma cabeça louca
Tinha uma louca esperança
Tinha fé no meu destino
Tinha sonhos de criança
Tinha um mundo pequenino
Tinha toda a minha rua
Tinha as outras raparigas
Tinha estrelas tinha a lua
Tinha roda de cantigas
Gostava de ser quem era
Pois quando eu era menina
Tinha toda a Primavera
Só numa flor pequenina
Amália Rodrigues in Amália, fados, poemas e flores

15.10.06

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Joaquín Salvador Lavado (QUINO)

8.10.06

A metade perdida

...Aquela rapariga que lhe parecera tão familiar era, de facto, uma desconhecida. Mas era ela que sempre desejara. Se um dia encontrasse o seu paraíso pessoal, se é que tal coisa existe, era com essa rapariga que lá havia de viver. A rapariga do sonho era o «es muss sein!» do seu amor.
Lembrou-se do célebre mito do Banquete de Platão: dantes, em tempos muito recuados, os humanos eram hermafroditas e Deus separou-os em duas metades, que, desde então, erram pelo mundo à procura uma da outra. Amar é desejar essa metade perdida de nós próprios.
Admitamos que assim seja: que cada um de nós tenha algures no mundo um par com o qual constituía em tempos um único corpo. A outra metade de Tomas é a rapariga com quem ele sonhou. Mas nunca ninguém há-de encontrar a outra metade de si próprio. Em vez dela, mandaram-lhe uma Tereza dentro de uma cesta ao sabor das águas. Mas o que acontecerá depois, se encontrar realmente a mulher que lhe estava destinada, a outra metade de si próprio? Qual é que deverá preferir? A mulher que encontrou numa cesta ou a mulher do mito de Platão?
Milan Kundera in A insustentável Leveza do Ser (quinta parte - cap. 23)

3.10.06

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Joaquín Salvador Lavado (QUINO)