Ser ou não ser
Os conselhos são parecidos com a máquina de ski aeróbica de baixo impacto que comprou através de um anúncio das telenovelas - fica com ela durante algum tempo, sem lhe dar muita atenção, e depois oferece-a a outra pessoa. É a única coisa que se pode fazer com os conselhos e com as máquinas de ski aeróbica já que, na verdade, nunca se serve deles.
Há por aí uma série de maus conselhos. Há, por exemplo, toda aquela herança cultural, bastante complicada, de sabedoria popular que tem sobrevivido durante séculos, sendo ignorada e depois empurrada, como uma lata de sopa cheia de ferrugem, para a nova geração que a agarra, ignora e passa à geração seguinte. [...]
Quantas vezes alguém lhe disse:«Anima-te. Pior do que estão não podem ficar!» Este tipo de desonestidade barata é mais do que insultante. Se as coisas têm uma característica comum, com a qual todos concordamos, é a de poderem tornar-se sempre piores. Se deixarmos, as coisas ficam ainda piores do que a segunda parte de um filme de Jim Carrey.
Outro conselho que me chateia e enerva, por ser confuso e completamente falso, é o seguinte: «Seja você mesmo». Já alguma vez ouviu algo tão aterrador? A civilização e todos os padrões de decência humana têm precisamente como base o facto de não sermos nós próprios. Nunca leu O Senhor das Moscas? Ou disputou com outra pessoa o último lugar do parque de estacionamento de um centro comercial? Por detrás dos fantásticos cortes de cabelo somos animais.
Mesmo pondo de parte o debate natureza-educação, ser você mesmo envolve muitos perigos. A maior parte de nós, bem lá no fundo, é um gato cobarde, fugidio, hipócrita e, por vezes, assustado, ambivalente em termos emocionais, moralmente frágil e com um gosto secreto por certo tipo de música ligeira que, em circunstância alguma, tornaria público. Porque haveríamos de ser essa pessoa? Num mundo de indivíduos que parecem ser mais interessantes do que nós, porque haveríamos de ficar presos a nós próprios? Se sermos nós mesmos fosse assim tão bom, haveria muitas pessoas à espera de serem como nós.[...]
O mais importante, de tudo o que disse, é isto: não pense que tem de ser sempre você mesmo. [...]
Veja bem. Não estou a sugerir-lhe que tente melhorar. Não. Isso requer tempo e esforço, quase nunca dá resultado e ainda o deixa preso a si. Seja apenas outra pessoa durante algum tempo. Este mundo é demasiado diversificado para sermos sempre a mesma pessoa. [...]
Se conseguiu aprender a dominar o seu ovo de avestruz, já deve ter percebido que tudo é possível. É o mesmo que dizer: tudo se pode fingir. Pode ser a pessoa que quiser.
Há por aí uma série de maus conselhos. Há, por exemplo, toda aquela herança cultural, bastante complicada, de sabedoria popular que tem sobrevivido durante séculos, sendo ignorada e depois empurrada, como uma lata de sopa cheia de ferrugem, para a nova geração que a agarra, ignora e passa à geração seguinte. [...]
Quantas vezes alguém lhe disse:«Anima-te. Pior do que estão não podem ficar!» Este tipo de desonestidade barata é mais do que insultante. Se as coisas têm uma característica comum, com a qual todos concordamos, é a de poderem tornar-se sempre piores. Se deixarmos, as coisas ficam ainda piores do que a segunda parte de um filme de Jim Carrey.
Outro conselho que me chateia e enerva, por ser confuso e completamente falso, é o seguinte: «Seja você mesmo». Já alguma vez ouviu algo tão aterrador? A civilização e todos os padrões de decência humana têm precisamente como base o facto de não sermos nós próprios. Nunca leu O Senhor das Moscas? Ou disputou com outra pessoa o último lugar do parque de estacionamento de um centro comercial? Por detrás dos fantásticos cortes de cabelo somos animais.
Mesmo pondo de parte o debate natureza-educação, ser você mesmo envolve muitos perigos. A maior parte de nós, bem lá no fundo, é um gato cobarde, fugidio, hipócrita e, por vezes, assustado, ambivalente em termos emocionais, moralmente frágil e com um gosto secreto por certo tipo de música ligeira que, em circunstância alguma, tornaria público. Porque haveríamos de ser essa pessoa? Num mundo de indivíduos que parecem ser mais interessantes do que nós, porque haveríamos de ficar presos a nós próprios? Se sermos nós mesmos fosse assim tão bom, haveria muitas pessoas à espera de serem como nós.[...]
O mais importante, de tudo o que disse, é isto: não pense que tem de ser sempre você mesmo. [...]
Veja bem. Não estou a sugerir-lhe que tente melhorar. Não. Isso requer tempo e esforço, quase nunca dá resultado e ainda o deixa preso a si. Seja apenas outra pessoa durante algum tempo. Este mundo é demasiado diversificado para sermos sempre a mesma pessoa. [...]
Se conseguiu aprender a dominar o seu ovo de avestruz, já deve ter percebido que tudo é possível. É o mesmo que dizer: tudo se pode fingir. Pode ser a pessoa que quiser.
Darrel Bristow-Bovey in Fui eu que mexi no teu queijo
4 Posfácios:
Bem... pois... Não me parece que seja assim... mas pronto. É uma opinião.
Vou-te contar um segredo... sabes porque gosto deste texto? não é por concordar com esta opinião... em verdade também não concordo.
Interessante mesmo é que este texto está num dos livros de auto-ajuda mais vendidos do mundo! e que é como se fosse o segundo volume do famoso "Quem mexeu no meu queijo?"... Entendes onde quero chegar?! ...Além de ser uma imagem muito próxima da nossa sociedade actual, é um conselho 'muito vendido' para sermos 'melhores'.
É difícil lutar contra tão subtil forma de mau conselho...
É um bom convite à duplicidade. MAs... no fim... quem somos nós verdadeiramente?
Só uma vez fiquei mudo:
quando alguém me perguntou:
"Quem és tu?".
(Khalil Gibran in Areia e Espuma)
Penso que não somos nada. Apesar de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, nada somos porque perdemos essa nossa identidade. Vivemos uma vida inteira para a reencontrar.
Mas tudo isto são pensamentos, porque na realidade a dúvida prevalece: 'Quem somos?'.
S.
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